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Tweakments: a estética da sutileza - PeoplePop

Tweakments: a estética da sutileza

Durante décadas, a medicina estética esteve marcada por procedimentos que buscavam transformar radicalmente os traços do rosto. O resultado, muitas vezes, era o excesso: expressões congeladas, volumes artificiais, uniformização de feições. Essa fase, porém, começa a ceder espaço a um novo paradigma. Surgem os tweakments , termo derivado da fusão de tweak (ajuste) e treatment (tratamento) , que traduz uma filosofia centrada na sutileza, na prevenção e, sobretudo, na naturalidade.
A ideia central é clara: melhorar sem mudar. “Trata-se de uma estética menos intervencionista, que preserva identidade e autenticidade, suavizando sinais do tempo sem apagar a individualidade de cada rosto. Se a era anterior buscava “parecer transformado”, o desejo atual é acordar com a sensação de estar bem, mas de forma espontânea, sem vestígios visíveis de intervenção”,explica Eduardo Sucupira, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

“Dentro dessa abordagem, destacam-se técnicas como a aplicação de toxina botulínica em doses preventivas, os bioestimuladores de colágeno, os skinboosters, além dos preenchimentos leves com ácido hialurônico. Tecnologias complementares, como lasers, microagulhamento e peelings superficiais, completam o arsenal”, ressalta Sucupira
Os números refletem essa mudança cultural. O uso estético da toxina botulínica deve crescer 10% até 2026; os bioestimuladores de colágeno, que já tiveram um aumento de 57% nos últimos anos, projetam expansão de 11% até 2028. No Brasil, a procura por procedimentos não cirúrgicos saltou 390% entre 2014 e 2016, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O país ocupa hoje a segunda posição mundial em número de intervenções minimamente invasivas, atrás apenas dos Estados Unidos.
Esse avanço não se explica apenas pela tecnologia. Ele dialoga com transformações sociais mais amplas: a exposição constante do próprio rosto nas telas, a influência dos filtros digitais e a valorização crescente de soluções que demandam pouco ou nenhum tempo de recuperação.
Ao analisar esse fenômeno,  não é possível dissociar a dimensão técnica da cultural e da ética. O cirurgião plástico Eduardo Sucupira, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e discípulo do professor Ivo Pitanguy, observa, “Os tweakments representam uma mudança de mentalidade. Não se trata apenas de técnicas novas, mas de uma nova cultura da estética, que privilegia a naturalidade e a preservação da identidade. Cabe ao médico atuar com responsabilidade, educando o paciente e, muitas vezes, dizendo não a expectativas irreais.”, pontua
Essa perspectiva encontra eco no pensamento de Pitanguy, que via a cirurgia plástica como um exercício de humanidade. “O importante não é o que se corrige no corpo, mas a harmonia que se restabelece na alma”, dizia o mestre, lembrando que a beleza não deve ser encarada como um fim em si, mas como parte da dignidade humana.
Os tweakments conquistam sobretudo jovens adultos, entre 25 e 40 anos, que buscam retardar os sinais de envelhecimento sem comprometer sua identidade. São pessoas que não desejam “parecer transformadas”, mas sim “acordar bem”, em sintonia com a estética da espontaneidade.
Mais do que um modismo, os tweakments simbolizam uma evolução da própria ideia de beleza. Não se trata apenas de parecer mais jovem, mas de se reconhecer no espelho com orgulho, em todas as fases da vida.
Para Sucupira, o futuro da estética depende menos da tecnologia e mais da responsabilidade. “A naturalidade só é possível quando se respeita a individualidade do paciente e seus limites estéticos e fisiológicos. O papel do cirurgião não é atender a todos os desejos, mas guiar o paciente na direção daquilo que realmente trará bem-estar, autoestima e autenticidade”, conclui.
Ao retomar a herança de Pitanguy, fica claro que a estética do futuro caminha para a sutileza, para a personalização e para a ética. “Em última análise, trata-se menos de esconder rugas e mais de cultivar harmonia , consigo mesmo e com o tempo”, finaliza Sucupira .