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TDAH e memória no ambiente de trabalho: o esquecimento pode virar obstáculo profissional? - PeoplePop

TDAH e memória no ambiente de trabalho: o esquecimento pode virar obstáculo profissional?

Perder prazos, esquecer tarefas ou ter dificuldade para manter o foco em reuniões importantes
 
Para muitos adultos com TDAH, esses episódios são mais do que distrações pontuais são sinais de um transtorno neurológico que afeta diretamente o desempenho no trabalho. O neurologista Matheus Trilico explica por que isso acontece e o que pode ser feito para virar o jogo.

No mundo corporativo, produtividade, foco e organização são habilidades valorizadas e exigidas. Mas para adultos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), essas habilidades podem parecer inalcançáveis, especialmente quando a memória começa a falhar em momentos-chave da rotina profissional.

Dr. Matheus Trilico (Foto: Divulgação)

“Um dos sintomas mais frequentes em adultos com TDAH é a dificuldade com a memória de trabalho. Isso afeta diretamente a capacidade de lidar com múltiplas demandas, lembrar instruções e concluir tarefas dentro do prazo”, explica o neurologista Matheus Trilico, referência nacional no tratamento de adultos com TDAH e autismo.

Três tipos de memória e um elo frágil
 
Segundo o médico, o cérebro opera com três tipos principais de memória:
• De trabalho, que é usada para armazenar informações temporárias enquanto se executa uma tarefa;
• De curto prazo, que guarda informações por minutos ou horas;
• De longo prazo, onde ficam armazenadas as experiências e aprendizados mais duradouros.

“No TDAH, a memória de trabalho é a mais comprometida”, explica Trilico. “Ela é essencial no dia a dia do trabalho, por exemplo, quando alguém recebe uma lista de tarefas e precisa lembrar de cada item enquanto responde e-mails ou lida com interrupções. Sem essa capacidade, é comum esquecer partes importantes ou não conseguir finalizar o que foi iniciado.”

O impacto no desempenho e na autoestima

Essas falhas não passam despercebidas. Muitos adultos com TDAH relatam um histórico de demissões, avaliações negativas ou frustrações recorrentes no ambiente profissional. “O problema é que o TDAH, quando não diagnosticado, costuma ser confundido com desorganização, falta de comprometimento ou até preguiça”, afirma o neurologista.

E o impacto vai além do rendimento. A sensação de estar sempre “correndo atrás”, esquecendo coisas ou deixando tarefas incompletas pode minar a autoconfiança e gerar quadros de ansiedade ou burnout.

Homens, mulheres e o TDAH no trabalho
Homens e mulheres podem vivenciar o TDAH de formas diferentes no ambiente de trabalho. Enquanto os homens tendem a demonstrar mais impulsividade e inquietação, o que pode gerar conflitos ou dificuldades com regras, as mulheres geralmente enfrentam uma desatenção mais silenciosa, que pode passar despercebida, mas afeta profundamente a produtividade.

“Mulheres com TDAH são frequentemente subdiagnosticadas e só percebem o transtorno após anos de sofrimento, principalmente em cargos que exigem multitarefas, planejamento e memória ativa”, pontua Trilico.

Dicas práticas para vencer os desafios da memória no trabalho

O neurologista reforça que o tratamento adequado, com ou sem medicação,  é o primeiro passo. Mas algumas estratégias simples podem melhorar bastante a performance no trabalho:

Crie rotinas fixas: estabelecer um ritual para começar e terminar o expediente ajuda o cérebro a entrar no ritmo.

Use checklists e apps de tarefas: Ferramentas como Trello, Notion ou Google Tasks podem ser aliados poderosos.

Evite multitarefa: Tente manter o foco em uma tarefa por vez. Mudar de contexto com frequência sobrecarrega a memória de trabalho.

Defina lembretes visuais ou auditivos: alarmes, post-its e alertas ajudam a manter compromissos em mente.

Faça pausas estratégicas: pequenos intervalos ajudam a manter a mente ativa e recuperar a atenção.

Diagnóstico não é rótulo: é libertação
Muitos adultos com TDAH passam anos tentando “compensar” suas dificuldades no trabalho sem entender o motivo real por trás delas.

“O diagnóstico do TDAH não deve ser visto como um rótulo, mas como uma explicação que abre caminhos para intervenções eficazes. Ninguém precisa continuar se sentindo incapaz ou sobrecarregado todos os dias”, finaliza Dr. Matheus Trilico.

Com o tratamento certo e apoio adequado, é possível transformar o modo de trabalhar e de viver.

Dr. Matheus Luis Castelan Trilico – CRM 35805PR, RQE 24818.

·       Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA);

·       Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR);

·       Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR

·       Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista

Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/