Acompanhe a entrevista com o artista que equilibra múltiplas funções no setor cultural, destacando sua ética profissional e o papel da paternidade em sua vida
Ator, diretor, escritor, produtor, roteirista, compositor, empresário, consultor, preparador de elenco, filho, irmão, pai, amigo. Basta fazermos uma pesquisa nos mecanismos de busca pela internet e encontramos o nome de Rodrigo Hallvys presente em diversos projetos de cultura. Em suas redes sociais vemos registros fotográficos e textos que confirmam sua presença e apoio em eventos e projetos de outros artistas.
Durante uma rápida conversa com nossa equipe, o artista e proprietário da RH Soluções Artísticas nos levou a pensar sobre comportamento dentro do mercado de trabalho, sobre ética e realização profissional. Confira abaixo o bate-papo com o artista que perceptivelmente tem o costume de se reinventar.
REDAÇÃO – Rodrigo, ao pesquisarmos um pouco do seu trabalho nos surpreendemos com a gama de funções que você exerce. Como consegue assumir tantas tarefas entre a vida profissional e pessoal?
RODRIGO -Será que eu consigo? (Risos) Com o tempo aprendemos que a cada escolha que fazemos, também fazemos uma renúncia. Faz parte da vida. Não dá para ter tudo ao mesmo tempo. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Então vem outro aprendizado, que é compreender a diferença entre coisas importas e coisas urgentes. Funciono com agenda. Meus trabalhos são todos agendados, com prazos para serem cumpridos e entregues. Preciso garantir períodos em que possa estar tranquilo para a mente criativa. Em outros momentos preciso estar em ritmo agitado para cumprir prazos. Assim, ao entregar um trabalho, abro espaço na agenda para produzir outro.
REDAÇÃO – Mas são em muitas funções diferentes…
RODRIGO – Talvez. Porém, não executo todas ao mesmo tempo. Consigo executar uma quantidade de funções simultaneamente de acordo com a demanda e camadas de exigências presentes em cada projeto a ser desenvolvido. Tenho os dias e horários exatos para preparar elenco, que faço no primeiro semestre do ano e, é quando costumo escrever os roteiros também. No segundo semestre dirijo o elenco já objetivando espetáculos escritos. Tenho os dias da semana onde consigo prestar consultoria e cumprir reuniões. Há os dias em que consigo ir a eventos com mais facilidade, pois costumo receber os convites com antecedência.
REDAÇÃO – Então você possui quem lhe dê suporte?
RODRIGO – Exato! Por exemplo, o trabalho ligado à imprensa é assinado pela Cenário Mídia, que é responsável pela assessoria de todos os produtos e projetos vinculados à RH Soluções Artísticas. Não daria conta de cumprir uma entrevista enquanto estou roteirizando ou preparando elenco, por exemplo. Então há um agendamento prévio. Quando tenho agenda na Oficina de Atores Estudarte e, no mesmo horário, preciso fazer presença em um evento, geralmente o elenco troca de horário para possibilitar ambas atividades que me são propostas ou o Maycon Lendel assume a oficina para que eu possa liberar minha agenda.
REDAÇÃO – Maycon Lendel é seu filho, certo? Como você vê a paternidade?
RODRIGO – Entendo que pai e mãe são comportamentos. Há pais biológicos, pais adotivos e pais afetivos. Mas que só fazem jus ao termo “pai” ou “mãe” com a qualidade do comportamento e da disposição para assumir o termo. Sou pai afetivo do Álvaro e do Maycon Lendel. São meus filhos afetivos, os vejo como presentes de Deus respondendo minhas orações. Busco ser para eles o que acredito que preciso ser como pai. Procuro me policiar para não sufocar e tento. respeitar os espaços deles, sempre disposto a orientar, puxar orelha e afagar choros quando for necessário.
REDAÇÃO – Os dois trabalham no teatro com você?
RODRIGO – Ambos entraram em minha vida através do teatro. Em períodos distintos. Ambos já são adultos. Hoje, Álvaro é advogado, já tem mais de trinta anos e é noivo. Cresceu, seguiu o caminho dele. Tenho muito orgulho dele, mas o vejo raramente. Maycon Lendel veio para minha vida há menos de cinco anos. Também me enche de orgulho. Está trabalhado muito com audiovisual. Já atuou em alguns espetáculos do Estudarte e dirigiu “Barulho”. Ele , é gigante em cena e foi quem me convenceu a voltar a atuar. Por isso ele é responsável pela direção de “A Última Carta”.
REDAÇÃO – É a peça em que você está em turnê!
RODRIGO – Sim. A turnê está em pausa para que eu possa reposicionar minha respiração. Tive uma exaustão que atingiu meu diafragma e está interferindo em algumas entonações de minha voz, afetando a personagem. Voltaremos em breve com a turnê. Só preciso retornar com o meu fôlego.
REDAÇÃO – Com sua experiência em várias áreas dentro do setor cultural, como você vê a qualidade dos produtos artísticos na atualidade?
RODRIGO – Talvez seja uma questão atemporal e independente de área profissional. Cada um desenvolve o trabalho com uma dedicação ou perspicácia diferente. Somos seres diferentes, com visões diferentes e afinidades diferentes. É natural que isso modele de forma diferente cada profissional. É importante pensarmos qualidade com avaliação técnica. Gosto não é critério de qualidade. Vejo trabalhos tecnicamente impecáveis, desenvolvidos, elaborados e bem concebidos, mas que apenas não tenho afinidade por gosto mesmo. Mas merecem aplausos pela qualidade e estarei aplaudindo sempre que os consumir.
REDAÇÃO – Então você também consome trabalhos que não têm a ver com seu gosto pessoal?
RODRIGO – Sim. Às vezes assisto trabalhos que em nada se aproximam das linhas que produzo ou diariamente consumo. Mas são amigos meus lá. São artistas trabalhando pelo seu ganha-pão. São os trabalhos de outros profissionais da arte que estão dando seu suor por seus projetos. Então vou sim e aplaudo sim! Não há como ser artista se você não se dispuser a ser plateia também! Estarei sempre torcendo para que outros artistas se realizem!
REDAÇÃO – Você demonstra ser muito realizado.
RODRIGO – Creio que sim. Muito! Tudo que me propus produzir, consegui realizar. O que não teve continuidade foi porque venceu a validade ou porque envolvia situações ou comportamentos alheios que acabavam sabotando tal continuidade. Mas os pontapés de início sempre aconteceram e é muito bom olhar para isso tudo e sentir que a realização é tão satisfatória. Isso só não faz de mim mais importante ou incrível do que as outras pessoas. Escolhas e realizações cabem a nós, mas não podem ser alimento de egos.
REDAÇÃO – Se lhe pedíssemos um conselho ou orientação. O que pensaria em nos falar?
RODRIGO – Estude sempre! Tenha o hábito da pesquisa do que é útil para a sua carreira. Conhecimento não ocupa espaço, mas sendo útil, faz diferença no seu currículo. Ame o que você escolheu para seguir profissionalmente, mas não romantize sua profissão. Pois no dia a dia há muito mais espinhos do que flores. E sempre foque nas soluções, não nas questões. Pois se você focar nas questões, você ficará preso a elas, mas se focar nas soluções, você irá em direção a elas.