Psicólogo Francisco Poggio alerta para os riscos do relacionamento por aplicativos, que podem render dor de cabeça para quem procura o amor da vida justo no mês dos namorados
Junho é o mês das festas juninas, de dançar forró, tomar licor e comer o que há de melhor na culinária típica nordestina, mas também é o mês dos namorados. E é justamente neste período que alguns solteiros e solteiras sentem falta de compartilhar o dia 12 de junho ao lado de alguém.
E não há nada demais em desejar estar ao lado de outra pessoa desde que você saiba que a sua felicidade, de fato, depende só de você, não do outro. Mas quando a candidata ou o candidato não estão tão certos disso ficam expostos às armadilhas do relacionamento, que podem transformar a busca por uma companhia em um verdadeiro transtorno.
A facilidade oferecida pelos avanços tecnológicos permite, por exemplo, que a pessoa nem saia de casa para encontrar um pretendente e é aí que mora o perigo. O acesso ao outro quase que de forma instantânea, em uma vitrine de uma rede social ou de um aplicativo de relacionamento pode ser um abre-alas para uma experiência superficial.
É óbvio que, a exemplo do que ocorre com os amores de Carnaval, há muitos cases de sucesso entre pessoas tímidas que encontraram a “outra banda da sua laranja” ou a “tampa da sua panela” a partir destes mecanismos tecnológicos, mas, ainda assim, é preciso ter cuidado.
Um fenômeno que não é novo, mas ganhou nome e identidade com o advento das tecnologias de relacionamento é o ghosting. Sim, a palavra em livre tradução remete à “fantasma”, alguém que some justamente quando tudo parece ir bem. Aquela que sai da sua vida, do seu dia a dia, se tornando um fantasma.
Há um sem número de explicações para esse comportamento, mas, de acordo com o psicólogo Francisco Poggio, a pessoa que é vítima de ghosting “experimenta levar um fora sem que ocorra um término e isso diz muito sobre a brevidade dos relacionamentos modernos, que não permitem viver as etapas e buscam intensamente avançar para comprometimentos e partilha de confiança plena sem que haja tempo para amadurecer o sentimento e o conhecimento sobre o outro”.
“Quando alguém está apaixonado por outra pessoa é natural que se projete sobre o outro o ideal o melhor de si. Isso é exatamente a paixão, algo que vai diminuindo com o passar da convivência, porque você passa a conhecer mais a pessoa. Naturalmente, quando há amor, essa compreensão das lacunas do outro é maior e substitui o fogo da paixão”, afirma o especialista.
Ele ainda complementa que, “atualmente, as redes sociais e os aplicativos de relacionamento, como num comércio qualquer, estimulam a ‘venda’ desse ideal de pessoa, porque lá só são publicadas as melhores impressões de cada identidade, o que atrai as atenções e estimula o desejo. Quando não há sentimento e sobra vontade, curiosidade, aquele ser desejado vai de ideal a descartável e a falta de coragem em admitir isso faz com que muita gente simplesmente caia fora, exercendo o ghosting”.
Francisco Poggio conclui que “muita gente acaba se acostumando com essa forma descompromissada de se relacionar, com o tempo, praticando o ghosting com frequência, mantendo inúmeros relacionamentos virtuais paralelos, sendo responsável direto pela dor gerada em quem acreditava estar vivendo a grande experiência amorosa da vida”.
Por isso, um velho conselho dos mais experientes nunca foi tão adequado: “ame você antes de amar alguém”.
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Francisco Poggio é psicólogo e hipnoterapeuta
Mais informações no Instagram @franciscopoggio23