Anestésico vem sendo usado no tratamento de transtornos mentais, como a depressão, mas uso sem prescrição médica é perigoso
Segundo o jornal The New York Times, o bilionário Elon Musk, de 53 anos, intensificou o uso de ketamina, nos últimos dois anos, período em que atuava no governo de Donald Trump. revelação chamou atenção não apenas pelo nome envolvido, mas pelo que ela representa: o uso crescente dessa substância entre celebridades, executivos e pessoas de alta performance intelectual, muitas vezes como forma de lidar com o estresse, a depressão ou simplesmente buscar mais “clareza mental”.
A ketamina, também conhecida como quetamina ou cetamina, que por décadas ficou restrita a hospitais e clínicas veterinárias, saiu do centro cirúrgico e entrou no radar da elite global. Mas, segundo o médico João Borzino, à medida que se aproxima da cultura do bem-estar e da alta performance, seu uso também se espalha de forma descontrolada — e perigosa — fora dos consultórios.
Desenvolvida na década de sessenta, a ketamina se destacou por sua eficácia como anestésico de ação rápida e segura, de acordo com o médico. “Nas últimas duas décadas, porém, pesquisas começaram a apontar um efeito inesperado: em doses muito menores, ela tem potencial de aliviar sintomas severos de depressão, muitas vezes em poucas horas. Isso a transformou em uma ferramenta poderosa para tratar pacientes com depressão resistente e ideação suicida — quando administrada com acompanhamento médico”.
Paralelamente, o uso recreativo cresceu, impulsionado pela fama da substância como “cura rápida” para a dor emocional. Em festas, a ketamina aparece como pó inalado ou líquido, sendo procurada por seus efeitos dissociativos e alucinógenos. No entanto, segundo João Borzino, os riscos são sérios. Ele citou quais são:
“Cistite crônica, dependência psicológica, prejuízos cognitivos e surtos psicóticos são alguns dos efeitos do uso repetido ou em altas doses.
Fora do ambiente clínico, a ketamina é uma roleta russa química — especialmente quando combinada com outras substâncias ou usada por quem já apresenta transtornos mentais não diagnosticados”, destacou.
A linha tênue entre inovação e abuso
João Borzino diz que tornar a situação ainda mais complexa é justamente o prestígio que agora envolve a ketamina. “O fato de nomes como Musk utilizarem a substância lança uma espécie de selo informal de legitimidade. Mas há uma diferença abissal entre o uso terapêutico monitorado e o consumo desregulado em busca de produtividade ou escape”.
No Brasil, o uso médico da ketamina é legal, mas requer estrutura, protocolos rígidos e profissionais especializados. Segundo Borzino, ignorar essa diferença pode custar caro — e transformar um avanço científico em uma nova crise de saúde pública.
“A ketamina carrega um potencial inegável: salvar vidas, aliviar sofrimentos extremos e expandir as possibilidades da psiquiatria. Mas seu brilho recente entre milionários e influenciadores não pode nos cegar para os riscos reais do uso fora de controle. Na fronteira entre o tratamento e o abuso, o que vai definir o futuro da ketamina é a responsabilidade — não o hype”, conclui.