Enquanto o DETRAN-SP admite ilegalidades nos pátios de São Bernardo, Santo André e Guarulhos, milhares de cidadãos seguem sem reembolso, sem explicações e sem justiça.
Fraudes comprovadas, cobranças abusivas, desrespeito à lei, reincidência de práticas ilegais e… silêncio institucional. Este é o retrato atual do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (DETRAN-SP), que, mesmo após confirmar irregularidades graves nos pátios de São Bernardo do Campo e Guarulhos, segue sem oferecer qualquer reparação aos motoristas prejudicados.
Pior: os operadores acusados voltaram a atuar como se nada tivesse acontecido — sem transparência sobre quantos foram lesados, quanto foi cobrado indevidamente ou quais medidas estão sendo adotadas para restituir os cidadãos.
Para Wilson Jorge Saraiva, presidente do SEGRESP – Sindicato das Empresas e Proprietários de Serviços de Reboque, Resgate, Guincho e Remoção de Veículos no Estado de São Paulo –, a situação é um escândalo que atinge diretamente o bolso e a dignidade do cidadão.
“O que está em jogo não é só a legalidade dos contratos — é o respeito à população que paga e é lesada sem qualquer respaldo do Estado”, denuncia.
FRAUDE RECONHECIDA, PÁTIO REABILITADO: E O CIDADÃO, ONDE FICA?
Não se trata mais de suspeitas. O DETRAN-SP reconhece publicamente que os pátios de São Bernardo do Campo, Santo André e Guarulhos cobraram valores acima do previsto por lei — que estabelece R$ 40,72 por diária e R$ 407,22 por remoção. Os abusos foram bem além disso, com documentos e recibos revelando cobranças elevadas e injustificadas.
Os pátios São Bernardo do Campo e Santo André foramsuspensos por cobrança indevida. E pior, como demonstração prática da omissão do Estado, todos foram reativados pouco tempo depois — sem qualquer campanha pública de devolução dos valores ou prestação de contas sobre o que foi feito para reparar os danos.
“É como se o Estado dissesse: ‘Sim, você lesou o cidadão — mas pode continuar operando’. Isso é um recado perverso à sociedade”, afirma Wilson Saraiva.
CIDADÃOS PREJUDICADOS SEGUEM INVISÍVEIS
Quantas pessoas foram lesadas? Quanto dinheiro foi cobrado indevidamente? Houve devolução? Há algum canal de ressarcimento ativo?
Nenhuma dessas perguntas foi respondida até agora. O DETRAN-SP é conivente quando admite a ilegalidade, mas não menciona quem foram as vítimas, quanto perderam, e nem o que será feito para compensá-las, ou seja, DETRAN-SP prejudica o cidadão. Essa omissão não é apenas técnica — é um desrespeito direto ao cidadão, à transparência e à dignidade humana.
A REINCIDÊNCIA E O RISCO DA NORMALIZAÇÃO
Além das cobranças ilegais, o próprio órgão reconheceu um episódio ainda mais grave: veículos que deveriam ir ao pátio de Guarulhos foram desviados para o pátio deSão Bernardo do Campo — justamente um dos que já haviam sido punidos por prática ilegal.
Mesmo assim, nenhuma ação imediata foi tomada. Somente em 26 de junho de 2025 o DETRAN-SP anunciou a suspensão do pátio Guarulhos por indícios de nova cobrança indevida.
Mais uma vez, nenhuma medida foi divulgada sobre o atendimento às vítimas ou devolução dos valores.
“A reincidência revela uma cadeia de omissões. A cada nova fraude, o cidadão é penalizado duas vezes: na cobrança indevida e na omissão do Estado”, alerta o presidente do SEGRESP.
CIDADÃOS DENUNCIAM NAS REDES O QUE O DETRAN NÃO REVELA OFICIALMENTE
A indignação já ultrapassou os protocolos burocráticos. Nas redes sociais, vídeos, depoimentos e comprovantes de cobrança ilegal circulam com milhares de visualizações. Um dos posts no Instagram (https://www.instagram.com/p/DLpHEDuOs-y) mostra claramente boletos e recibos com valores acima do permitido, com indignação popular crescendo a cada dia.
Enquanto isso, o DETRAN – SP silencia. Nenhuma campanha de esclarecimento, nenhuma lista de restituições, nenhuma sinalização de responsabilidade pública. A mensagem é clara: o órgão admite o erro, mas não age para repará-lo.
SUSPENSÃO NÃO BASTA: IMPUNIDADE INSTITUCIONALIZADA É O MAIOR RISCO
Suspender um pátio por alguns dias e permitir que ele retome suas atividades como se nada tivesse ocorrido é um recado perigoso: o de que fraudes são toleradas desde que não ganhem repercussão suficiente. O que deveria ser uma exceção virou uma regra silenciosa, minando a credibilidade da autarquia e, sobretudo, o respeito ao cidadão.
“Sem devolução dos valores e sem responsabilização dos envolvidos, o Detran não cumpre seu papel institucional. E quando o Estado não protege o cidadão, ele se transforma em parte do problema”, afirma Wilson Saraiva.
MINISTÉRIO PÚBLICO: A ÚLTIMA ESPERANÇA DE JUSTIÇA
Diante da omissão do DETRAN – SP, o SEGRESP entende que cabe agora ao Ministério Público do Estado de São Paulo exercer seu papel constitucional: exigir reparação aos motoristas lesados, responsabilizar civil e criminalmente os envolvidos e garantir que as falhas não se repitam. O MP precisa apurar o número de vítimas e os valores desviados; exigir a devolução integral dos valores, com correção; denunciar operadores reincidentes; investigar a conduta do Detran – SP e suas omissões institucionais.
O QUE ESTÁ EM JOGO NÃO É SÓ DINHEIRO – É O RESPEITO AO CIDADÃO
Fraudes administrativas acontecem. Mas a resposta institucional a elas define o grau de civilização de uma sociedade. Quando o Estado falha em seu dever de fiscalização, falha em proteger o básico — o bolso e a dignidade do cidadão — ele perde autoridade moral.
O DETRAN – SP não pode agir como se estivesse acima da lei. A transparência, a justiça e a reparação não são favores — são obrigações públicas.
E ao cidadão resta uma certeza: ou o Ministério Público age, ou a impunidade será a regra.