Roger, um atleta de alto rendimento, dedicou sua vida ao corpo e à disciplina. Em 1995, um acidente aparentemente trivial durante uma demonstração de Kenpô Havaiano deixou uma marca silenciosa. Uma dor no pescoço que diminuiu, e a vida seguiu. Mal sabia ele que aquele momento, ignorado por tantos anos, seria o catalisador de uma transformação profunda e inesperada.
Dezessete anos depois, em 2012, o corpo começou a dar sinais. Pernas bambas, dificuldade para ficar em pé. A verdade, revelada por um especialista em coluna, era chocante: a primeira vértebra do seu pescoço estava solta, esmagando sua medula. Roger tinha quebrado o pescoço em 1995 e conviveu com essa condição por quase duas décadas. Para os médicos, ele era um milagre, um tetraplégico incompleto que, contra todas as probabilidades, ainda estava vivo e andando. Mas a cada dia, sua condição piorava, e a cadeira de rodas parecia um destino inevitável.
Diante de uma cirurgia de alto risco, com poucas chances de sobrevivência e a possibilidade de tetraplegia completa, Roger se viu em um beco sem saída. Foi nesse momento de desespero que a vida lhe ofereceu um presente inusitado: 45 dias. Quarenta e cinco dias para viver como nunca antes, para se despedir, para amar, para ser a melhor versão de si mesmo. E ele aceitou o desafio. Escondeu a notícia da família, não por egoísmo, mas para preservar a pureza daquela jornada. E assim, começou a contagem regressiva para a vida.
Os 45 dias que se seguiram foram uma celebração da vida. Roger tirou as primeiras férias de 30 dias de sua vida, viajando com seu irmão para lugares que sempre sonhou. A diversão, a reconexão, a intensidade de cada momento eram um bálsamo para a alma. Em Barcelona, um encontro que parecia saído de um roteiro de cinema: o próprio Lionel Messi apareceu para conhecê-los. Para Roger, com a morte agendada, encontrar um dos maiores ícones do futebol mundial foi um presente inesperado, um lembrete de que a vida, mesmo em seus momentos mais sombrios, pode nos surpreender com alegria e magia.
Aqueles que o conheciam notaram a mudança. Roger estava mais leve, mais desencanado, mais alegre. Seus sentimentos mais profundos, aqueles que ele guardava a sete chaves, finalmente encontraram uma saída. O medo de demonstrar afeto, de ser vulnerável, de amar abertamente, foi substituído por uma necessidade urgente de distribuir amor. Ele não começou a amar, mas começou a distribuir esse amor como se o mundo fosse acabar em 45 dias. E essa, ele percebeu, foi a maior redescoberta de todas.
Conforme a data da cirurgia se aproximava, Roger se despediu, em silêncio, das pessoas que amava. Naquela que ele acreditava ser sua última manhã, visitou a Bio Ritmo da Avenida Paulista, um lugar que marcou sua trajetória profissional e onde fez amigos queridos. Teve uma conversa emocionante com sua ex-noiva, que lhe confidenciou que ele havia sido seu melhor namorado. Que presente! Que lembrança mais valiosa ele poderia levar para a mesa de cirurgia do que o reconhecimento de sua importância na vida daqueles que amava?
Logo após o almoço, ele se internou. Acreditava que aquele era o fim. Mas não foi. Quando acordou da cirurgia, descobriu que seus últimos 45 dias tinham sido os melhores de sua vida. Aquela era a vida que ele queria continuar a ter: alegre, com a cabeça positiva e levando o amor a sério. Olhar de perto a morte o fez perceber o que a vida espera de nós. Morreram dentro dele a prepotência, o egoísmo, a indiferença. Ele perdeu algumas possibilidades físicas, sim, mas sua alma, ah, essa o levou a saltos muito mais ousados do que qualquer trampolim. Hoje, sua alma é livre para voar, para amar, para ser grata.
O Legado do Coração: Não Espere Pelo Fim para Começar a Viver
Roger gosta muito de quem se transformou, esse “novo Roger”, que ele diz ter 9 anos de idade. E acredita que seus pais gostariam de conhecer esse homem. As pessoas, quando morrem, deixam um vazio, um espaço com contornos únicos. E esse espaço, ele espera, seja preenchido com a memória de quem ele se tornou. Se antes sua ideia era que seu corpo expressasse sua referência, hoje, ele sabe que pode ir além. Ele continua acreditando que nosso corpo é nosso templo. E esse templo tem algo sagrado em seu interior: nosso coração. É com ele transbordando de generosidade, de amor, de alegria, de solidariedade que todos nós podemos transformar o mundo.
A história de Roger é um poderoso lembrete: não espere por uma experiência de quase morte para começar a viver. A vida está acontecendo agora, neste exato momento. Ame, perdoe, abrace, diga “eu te amo”. Seja a melhor versão de você mesmo, hoje. E faça do seu coração o seu maior legado. Porque, no fim das contas, o que realmente importa não é quanto tempo você vive, mas o quão intensamente você ama e o impacto que você deixa no mundo