Barra
Setor de Bares e Restaurantes agoniza com falta de soluções tributárias e aumento nos preços, além da insegurança no trabalho - PeoplePop

Setor de Bares e Restaurantes agoniza com falta de soluções tributárias e aumento nos preços, além da insegurança no trabalho

Ao me deparar com a notícia de que um empresário dono de um bar foi morto a facadas por um cliente (alcoolizado) na zona sul de São Paulo, ao tentar defender uma colaboradora de assédio, confesso que preciso respirar fundo para continuar no propósito de empreender neste setor. Como dono de diversos comércios do setor de Alimentação Fora do Lar, um dos maiores empregadores do país, aliás, o segundo maior empregador, me sinto, além de inseguro, lesado, quase que diariamente.
É preciso alertar que somos um setor que está agonizando por falta de uma política pública decente, principalmente com relação aos impostos cobrados. Me atrevo a afirmar que somos taxados triplamente, sendo que até as gorjetas dadas aos colaboradores garçons sofrem com tal redução. Esse cenário é preocupante, já que somos uma engrenagem importante para a economia nacional, tanto analisando do lado do empregador, quanto do empregado. De acordo com estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), divulgado ontem, o contribuinte brasileiro trabalhou, até o dia 28 de maio de 2024, um total de 149 dias somente para pagar impostos, taxas e contribuições exigidos pelos governos federal, estadual e municipal. No caso do contribuinte que é administrador de um bar ou restaurante, chego à conclusão que praticamente só trabalhamos para pagar impostos.
Se já não bastasse todas as dificuldades que passamos na pandemia, afinal quem não fechou as portas teve que continuar arcando com aluguéis, impostos, salários de funcionários e a desintegração do estoque perecível com o isolamento, seguramos durante anos o repasse de aumentos de insumos. É preciso lembrar que o vilão da história não atende somente pelo nome de crise climática. Sim, alguns preços de alimentos aumentaram devido às oscilações de produção, porém o buraco é mais embaixo.
A inflação também é culpada e, com ela, a insistência do governo em não enxergar que estamos à beira de um colapso econômico. Insumos insubstituíveis para cozinhar como cebola e tomate tiveram aumentos absurdos e não estamos falando só do ano de 2024, isso vem se arrastando há muito tempo. Aliás, de acordo com um Boletim do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os preços de comercialização desses alimentos têm apresentado um aumento expressivo nos últimos meses. Se os preços dos insumos afetam diretamente a economia, imagine o que acontecerá se começarmos a repassar os prejuízos, demitir colaboradores e reduzir nossa operação?
Vale lembrar que em 1986, quando a medição de pagamento de impostos começou a ser feita levando em vista a vida de um contribuinte simples, os brasileiros precisavam trabalhar apenas 82 dias para pagar os tributos. Se formos por esse norte, acho que o empresário já nasce devendo. É rir para não chorar porque dos meus 50 anos de idade, pelo menos 30 são inteiramente dedicados a investir nesse mercado que, com a atual política empregada, está com os dias contados e pode, infelizmente, afundar sim uma nação.
Há tempos que a promessa de simplificação do sistema, que deveria ser simples e transparente, a ponto de não influenciar as decisões de investimento não sai do papel. É vergonhoso admitir que atualmente, não conseguimos chegar a um denominador comum sobre o pagamento de tributos de um produto ou serviço, de maneira cirúrgica. O sistema tributário brasileiro contempla uma variedade de tributos de competência e fronteira que varia demais, de acordo com cada produto ou serviço, e essa complexidade estimula o endividamento de maneira violenta. Com a reforma, esperamos que aconteça a simplificação por meio da implementação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para a União, estados e municípios.
Vivemos em um círculo vicioso e nos tornamos reféns da máquina pública, em diversas instâncias. Como advogado de formação e empresário de atuação e por amor aos meus negócios e famílias que ajudo, ainda me mantenho sob efeito de tratamento pós pandemia, é quase como se eu só testasse positivo e não saísse do lugar, mas mesmo assim, a gente tenta viver e evoluir, um dia após o outro. Ainda nadando contra a maré e subindo à superfície para pegar ar, acredito que os governos devam reconhecer a importância do nosso setor e, mais do que isso, realmente façam acontecer. É inerente a necessidade de adotar medidas imediatas para apoiar nossa recuperação, com o fornecimento de meios de assistência financeira direta e a implementação de políticas que incentivem a adaptação dos bares e restaurantes às novas realidades do mercado. Além disso, é preciso oferecer apoio à força de trabalho. Se nossos líderes não acordarem, teremos um impacto devastador em áreas não apenas na indústria de hospitalidade e alimentação, assim como também na economia toda e na comunidade local. Estamos suplicando por ajuda e não é de hoje.
E como abri o artigo falando da insegurança, preciso finalizar meu raciocínio quanto a isso. É preciso dar um basta porque cada um tem seu papel na sociedade. Não se pode transferir a responsabilidade do Estado para o dono do comércio no quesito segurança. Até quando? Tirar o peso da responsabilidade governamental é inadmissível, na minha opinião. Como empresário que atua no setor há mais de três décadas, me sinto na obrigação de gritar por justiça, inclusive, pela justiça fiscal.

*Christian Lombardi é empresário e sócio diretor do Horário Bar e Cucina, Boteco São Bento, Boteco São Conrado, Tuy e YU Restaurantes. Formado em Direito pela Universidade Paulista, decidiu atuar no ramo de alimentação fora do lar como empresário, há mais de 30 anos.